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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Trecho do Prefácio à Carta de São Paulo aos ROMANOS, por Martinho Lutero

Graça e paz meus irmãos!
Segue abaixo um trecho do Prefácio à Carta de São Paulo aos ROMANOS, por Martinho Lutero, 1483-1546 dC.
Espero que você leia e medite acerca desta carta, que como sendo a Palavra de Deus, contêm muitas verdades. 



Esta carta é sem dúvida a peça mais importante do Novo Testamento. É o evangelho mais puro. É de grande valor para um Cristão, não somente para ser memorizada palavra por palavra, mas também para dela se ocupar diariamente, como se fosse o pão diário da alma. É impossível, também ler nesta carta sem nela meditar. Quanto mais se lida com ela, mais preciosa ela se torna e melhor é saboreada. Por esta razão, quero completar minha obra e, com este prefácio, prover uma introdução para a carta, na medida em que Deus me para isso me capacita, de maneira que qualquer um possa obter o mais profundo entendimento da mesma. Até agora ela tem sido obscurecida {colocada em trevas} pelas interpretações [notas de explicação e comentários que acompanham o texto] e por muitos comentários infrutíferos, mas está dentro dela própria resplandece uma luz quase tão resplandecente para iluminar toda a Escritura.
Para começar, nós temos que nos tornar familiares com o vocabulário da carta e saber o que São Paulo quer dizer das palavras lei, pecado, graça, fé, justiça, carne, espírito, etc. Do contrário, adianta lê-la.
Não se deve entender a palavra lei aqui em padrões humanos, como regulamento sobre que tipo de ações devem ou não devem ser feitas. Esta é a maneira em que se apoiam as leis humanas: satisfazem-se os mandamentos da lei com obras, não importa se o coração está ou não de acordo. Deus julga o que está no mais profundo do coração. Por esta razão suas leis também agem como mandamentos no mais profundo do coração e não deixam o coração descansar, satisfazendo-se com as ações; E mais, Ele considera hipocrisia e desmente todas as obras feitas fora do íntimo do coração. Todos os seres humanos são chamados de mentirosos (Salmos 116), uma vez que nenhum deles cumpre ou pode cumprir as leis de Deus no mais profundo do seu íntimo. Todos têm dentro de si uma aversão ao bem e um desejo ardente pelo mal. Onde não há desejo espontâneo pelo bem, aío coração não está fundamentado nas leis de Deus. Lá também o pecado vai certamente ser achado, assim como a merecida ira de Deus, mesmo que muitas boas obras e uma vida de honra apareçam exteriormente.
Por esta razão, no capítulo 2, São Paulo acrescenta que os judeus são todos pecadores e diz que somente os cumpridores da lei são justificados diante de Deus. O que Ele está afirmando é que ninguém é se torna cumpridor da lei através das obras. Externamente, Ele lhes diz: "Vocês ensinam que não se pode cometer adultério, e cometem adultério. Vocês julgam os outros sobre um certo assunto e se condenam a si próprios nesse mesmo assunto, porque fazem exatamente as mesmas coisas sobre as quais julgam os outros." É como se ele estivesse dizendo:"Externamente vocês vivem propriamente nas obras da lei e julgam aqueles que não estão vivendo da mesma maneira, e sabem como ensinar a todo mundo.Olham o argueiro no olho do outro, mas não notam a trave que está em seupróprio olho."
Externamente, vocês tomam a lei como obras, apenas temendo a punição bem como o amor pelo enriquecimento{ganho,lucro, acréscimo, vantagem}. Da mesma maneira, fazem tudo sem espontaneidade e amor à lei; agem por aversão e força. Vocês viveriam de outra maneira, caso a lei não existisse. Segue-se, então, que, no profundo do coração, vocês são inimigos da lei. O que significa, então, para vocês, ensinar aos outros que não se deve roubar, quando são, no profundo do coração, ladrões e o seriam externamente, também, se tivessem coragem. (Com certeza, desse modo, as obras não permanecem por muito tempo comtanta hipocrisia.) Então assim, vocês ensinam aos outros mas não a si mesmos; nem sabem ao certo o que estão ensinando. Vocês nunca estudaram a lei corretamente. Mais adiante, a lei faz aumentar o pecado, como São Paulo diz no capítulo 5. Isso porque a pessoa se torna mais e mais inimiga da lei, quanto mais dela é exigido o que não pode fazer.
No capítulo 7, São Paulo diz, "A lei é espiritual." O que isso significa? Se a lei fosse física, então ela poderia ser satisfeita com obras, mas desde que é espiritual, ninguém pode satisfaze-la,  a menos que tudo que faça jorre do íntimo do coração. Mas ninguém pode dar um coração assim exceto o Espírito de Deus, o qual torna a pessoa conforme {ou como} a lei, de modo que realmente concebe um coração com o anseio pela lei e, a partir daí {de hoje em diante}, faz tudo, não através do medo e da força, mas de um coração espontâneo. Tal lei é espiritual, desde que possa ser amada e cumprida por esse coração e por um espírito espontâneo como esse. Se o Espírito não está no coração, então permanece o pecado, com aversão e inimizade contra a lei, a qual é boa, justa e santa.
Você deve ficar a par da idéia de que uma coisa é fazer as obras da lei e outra coisa é cumpri-la. As obras da lei são todas as coisas que uma pessoa faz ou pode fazer de sua própria disposição espontânea e pelas suas próprias forças para obedecer a lei.Mas porque ao efetuar tais obras o coração detesta a lei, mesmo forçado a obedecê-la, as obras são uma perda total e são completamente inúteis{sem uso}.Isto é o que São Paulo quer dizer no Capítulo 3 quando afirma, "Nenhum ser humano é justificado diante de Deus através das obras da lei." Através disso você pode ver que os mestres [i.e., os teólogos] e sofistas são sedutores, quando ensinam que podemos nos preparar para a graça através das obras. Como pode qualquer pessoa preparar-se a si mesmo para o bem por meio das obras, se não faz nenhuma boa obra, exceto com aversão e constrangimento em seu coração? Como pode tal obra agradar a Deus, se isso procede de um coração oposto e sem desejo ardente? {desejo ardente-unwilling=sem a força da mente em direcionar seus pensamentos e ações e influenciar a outros neste sentido.}
Mas cumprir a lei significa fazer suas obras amável e espontaneamente, sem o constrangimento da lei; significa viver bem e de maneira que agrada a Deus, como se não existisse lei nem punição. É o Espírito Santo, entretanto, quem põe tal desejo ardente deamor dentro do coração, como Paulo diz no capítulo 5. Mas o Espírito é somente dado, com, e através da fé em Jesus Cristo, como Paulo diz em sua introdução.Assim, também, a fé somente vem através da palavra de Deus, do Evangelho, o qual prega Cristo: como ele é tanto Filho de Deus e do homem, como ele morreu e ressuscitou para o nosso beneficio. Paulo diz tudo isso nos capítulos 3,4 e 10.
Isso é porque a fé sozinha faz alguém justo e cumpre a lei; essa é a fé trazida o Espírito Santo através do mérito de Cristo. O Espírito, em troca, oferece um coração alegre e espontâneo, como a lei demanda. Então as boas obras procedem da fé em si mesma.Isto é o que Paulo quer dizer no capítulo 3 quando, após ter jogado fora as obras da lei, ele parece querer abolir a lei pela fé. Não, ele diz, nós aprovamos a lei através da fé, i.e., nós a cumprimos através da fé.
Pecado nas Escrituras significa não somente as obras externas do corpo mas também todos aqueles movimentos dentro de nós que se ocupam eles mesmos de nos mover afazer as obras externas, nominalmente, do profundo do coração, com toda sua força. Por esta razão, a palavra realmente deve se referir a uma queda total da pessoa no pecado. Nenhuma obra externa do pecado acontece, após tudo isso, a menos que uma pessoa se entregue completamente a isso em corpo e alma. Em particular, as Escrituras vêem no profundo do coração, como o fundamento e a principal fonte de todo o pecado, a incredulidade dentro do íntimo do coração. Desta maneira, assim como a fé sozinha se faz justa e traz o Espírito e o desejo de fazer boas obras externas,então somente a incredulidade é que faz pecar, exalta a carne e traz o desejode fazer obras externas do mal. É o que aconteceu a Adão e Eva no Paraíso(Gênesis 3).
Esta é a razão por que somente a incredulidade é chamada de pecado por Cristo, como ele diz em João16, "O Espírito punirá o mundo por causa do pecado, porque não crêem em mim." Mais adiante, antes que as boas e más obras aconteçam, que são os frutos bons e ruins do coração, devem estar presente no coração tanto a fé comoa incredulidade, a fonte, mina e poder principal de todo o pecado. Daí porque, nas Escrituras, a incredulidade é chamada de a cabeça da serpente e do antigodragão, os quais a semente da mulher, i.e. Cristo, deve esmagar, como foiprometido a Adão (Gênesis 3).A graça e o dom que se distinguem nesta graça denotam realmente a bondade de Deus ou o Seu favor para conosco, pelos quais Ele está disposto a derramar Cristo e oEspírito com seus dons em nós, conforme se torna claro a partir do capítulo 5, onde Paulo diz, "A graça e o dom estão em Cristo, etc." Os dons e oEspírito crescem diariamente dentro de nós, mesmo completamente, uma vez que os desejos do mal e do pecado permanecem em nós, guerreando contra o Espírito, como Paulo diz no capítulo 7, e em Gálatas, capítulo 5. E Gênesis, capítulo 3, proclama a inimizade entre a semente da mulher e a semente da serpente. Mas, sem dúvida, a graça faz mais que isso: e através dela somos considerados completamente justos diante de Deus. A graçade Deus não está dividida em fragmentos e pedaços, como o são os dons, mas agraça nos eleva completamente ao favor de Deus, pelo beneficio de Cristo, nosso intercessor e mediador, de modo a ser permitido que os dons a iniciem suas obras em nós.
Desta maneira, você deve estudar o capítulo 7, onde São Paulo se retrata como ainda um pecador, enquanto no capítulo 8 ele diz que, por causa dos dons completos e por causa do Espírito, não há nada capaz de condenar ao inferno aqueles que estão em Cristo. Porque a nossa carne ainda não foi morta, e ainda somos pecadores, mas porque nós cremos em Jesus e temos os princípios do Espírito, Deus então nos mostra  seu favor e a sua misericórdia, em que ele nem percebe nem julga tais pecados. Melhor ainda, ele lida conosco de acordo com nossa fé em Cristo, até que opecado esteja morto.
Fé não é aquela ilusão e sonho humanos como julgam algumas pessoas. Quando elas ouvem e falam muitosobre a fé e ainda vêem que nenhum progresso moral e nenhuma boa obra resultamdisso, caem no erro e dizem, "Fé não é tudo. Você deve fazer obras,  justiça é justamente uma fé assim. É chamada de justiçade Deus ou aquela justiça que é válida aos olhos de Deus, porque é Deus quem a dá e a considera como justiça pelo benefício de Cristo, nosso Mediador.Ela influencia uma pessoa para dar a todos o que lhes está devendo. Através da fé uma pessoa se torna sem pecado e é movido pelos mandamentos de Deus. Assim ele dá a Deus a honra pertencente a Ele e paga-lhe o que está devendo. Ele serve às pessoas espontaneamente com os meios ao seu alcance. Neste caminho ele paga a todos sua dívida. Nem a natureza, nem o desejo livre, nem as nossas próprias forças podem nos trazer tal justiça, da maneira como ninguém pode dar a si próprio fé, então também ele não pode remover a incredulidade. Como ele pode jogar fora mesmo o menor dos pecados? Por esta razão, tudo que toma lugar fora da fé ou da incredulidade é mentira, hipocrisia e pecado (Romanos 14), não importa como mansamente isto parece prosseguir, cometendo idolatria e outros pecados e imperfeições horríveis. Elas não se envergonham delas próprias e deixam tais coisas sem punição nas outras.



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